Filme narra a notável vida de Marie Curie, que realizou pesquisas pioneiras em radioatividade, trabalho pelo qual ganhou dois prêmios Nobel.

O lançamento do “Radioativo”, drama que conta a história de Marie Curie, ocorre em meio à crescente conscientização sobre o papel das mulheres e das minorias étnicas na ciência.

Curie é interpretada por Rosamund Pike, enquanto Sam Riley viverá seu marido, Pierre Curie. A trama conta a história de Marie e sua luta em ser ouvida e respeitada pela comunidade científica de sua época, além de retratar seu casamento e as descobertas científicas ao lado de seu marido — em especial importantes elementos químicos que trazem à tona a radioatividade; rádio e polônio.

Crítica

Em particular, muitos profissionais das áreas de radiologia e medicina nuclear estavam ansiosos por um veículo popular que traria maior conscientização a um dos titãs cujo trabalho abriu o caminho para disciplinas como medicina nuclear e radioterapia.

A radiologista Dra. Geraldine McGinty, presidente do Colégio Americano de Radiologia (ACR), publicou sua crítica do longa em um editorial de 27 de julho na Clinical Imaging.

McGinty refletiu sobre como a história de Marie Curie pode ser vista em relação à nossa era atual, na qual a pandemia do COVID-19 expõe os desafios que as mulheres cientistas enfrentam ao tentarem equilibrar as responsabilidades pessoais e profissionais.

Ela descreveu como o casamento de Marie Curie com o marido Pierre foi descrito como uma “troca de energia” e como seu apoio pode ser visto como um exemplo inicial do movimento #HeforShe – no qual pesquisadores masculinos oferecem apoio e incentivo a suas colegas mulheres.

Pierre Curie inicialmente recusou o Prêmio Nobel que seria concedido a ele e Henri Becquerel em 1903 por suas pesquisas sobre radiação. O prêmio foi posteriormente dado a Becquerel e os Curies em conjunto – fazendo de Marie a primeira mulher a receber a honra.

Mas “Radioativo” fica aquém dessa história inspiradora, ao invés disso, serve uma narrativa na qual Marie Curie é retratada como “uma chateação excessivamente emocional que reclama com o marido por participar da cerimônia do Nobel sem ela”, escreveu McGinty.

Ela também observa que, na vida real, os dois Curies participaram da cerimônia, e Pierre dedicou grande parte de seu discurso a elogiar as contribuições de sua esposa.

McGinty também reserva críticas à maneira como a ciência é retratada em “Radioativo”, em particular como o personagem Marie Curie no filme descreve a radioatividade – como “esmagar uma uva e transformá-la em vinho”. Isso não é apenas absurdo, mas “promove o analfabetismo científico”, acredita McGinty.

Os problemas com o filme não são apenas acadêmicos. McGinty observa que o produtor do filme, a Amazon Studios, não está apenas comercializando “Radioativo” como a “história verdadeira” de Marie Curie, mas também promovendo o filme para ser exibido nas escolas como conteúdo educacional.

A crítica de McGinty parece ecoar críticas menos entusiasmadas de “Radioativo” na mídia popular, com o filme obtendo apenas 65% de aprovação do público no Rotten Tomatoes, 6,1 / 10 no IMDb.com e 56% no Metacritic.

No final, “Radioativo” fica aquém do retrato preciso da vida de uma notável mulher e pesquisadora, oferecendo narrativas “regressivas”. Como tal, não deve ser usado para fins educacionais, acredita McGinty.

“A exploração do filme dos efeitos positivos e negativos das descobertas que ela fez vale a pena, mas seu legado é importante demais para que sua história seja contada dessa maneira desleixada”, conclui.

Quem foi Marie Curie?

Consagrada com dois prêmios Nobel, um de física física e um de química, Marie Curie é um dos primeiros nomes que todo mundo pensa quando se fala em “mulheres pioneiras na ciência”.

Polonesa, Marie Skłodowska Curie nasceu na Varsóvia em 1867, e foi a primeira mulher a ser admitida na Universidade de Paris, cidade onde desenvolveu seu trabalho científico aclamado.

O termo “radioatividade”, inclusive, foi criado por Curie, em sua Teoria da Radioatividade, e ela também desenvolveu técnicas para isolar isótopos radioativos, descobrindo dois novos elementos (polônio e rádio).

Os primeiros estudos sobre o tratamento de neoplasmas com o uso de isótopos radioativos foram conduzidos sob sua direção, e ela também foi fundadora de de dois institutos de pesquisa médica que são, até hoje, de suma importância: o Instituto Curie, em Paris, e outro homônimo na Varsóvia.

Curie participou das sete primeiras edições da Conferência de Solvay, evento que reúne, até hoje, celebridades científicas do mundo todo, proporcionando avanços fundamentais em diversos ramos da ciência. Na primeira edição, de 1911, Curie estava ao lado de seu amigo e apoiador Albert Einstein.

Marie Curie morreu em 1934 aos 66 anos de idade, vítima de leucemia — consequência da exposição intensa à radioatividade, já que, naquela época, ainda não se tinha pleno conhecimento dos perigos de tal exposição.

Seu livro Radioactivité, que foi publicado após sua morte, é considerado um dos marcos dos estudos sobre a radioatividade, por sinal, e é uma obra estudada até os dias atuais. Mas ninguém pode colocar as mãos no seu livro original: por conta da alta radioatividade a que Curie e seus ambientes de trabalho estavam expostos, o livro físico só pode ser manipulado, até hoje, por pessoas usando roupas especiais protetoras, pois ele ainda é altamente radioativo!

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