Qual é a realidade de médicos e clínicas por trás da implementação das novas tecnologias que prometem auxiliar na área da saúde?

No mundo todo, cada vez mais hospitais e clínicas têm implementado sistemas digitais de Registro Eletrônico de Saúde. Como foi o caso da Mayo, nos EUA, cuja instalação demorou cerca de três anos e custou mais de $1,5 bilhão de dólares.

Os benefícios desse tipo de sistema já são conhecidos. Reunir todo o histórico médico do paciente gera padronização das informações e assim é possível aumentar a produtividade, já que diminui o risco de ocorrer desencontro de informações e erros médicos. Além disso, existe a mobilidade e integração que facilita o dia a dia dos prestadores de cuidados.

Por outro lado, existe a realidade para as clínicas e médicos. A implementação desses sistemas pode ser demorada e custar ao corpo médico horas de aulas e, muitas vezes, até mesmo meses de prática para que consigam utilizar toda sua capacidade. E, quando médicos param de trabalhar para aprender a utilizar uma tecnologia, a produtividade cai e os custos para a empresa aumentam.

Médicos vs computadores
Uma das maiores reclamações de médicos que utilizam os RES é sobre o tempo gasto no computador cotidianamente. A cada consulta, é necessário acessar o prontuário daquele paciente, que irá constar todo seu histórico. Depois disso, o médico precisa procurar o que é útil para aquela consulta e ainda adicionar as informações recém descobertas.

Com tudo isso, em alguns casos, já foi gasto mais tempo no computador do que conversando com o paciente. Isso quando o médico não precisa ficar no computador durante a consulta para tomar nota do que está ouvindo. Isso acaba por dar ao médico uma sensação de que a tecnologia os afasta do paciente, contrariando sua proposta.

A psicóloga Christina Maslach estuda esgotamento profissional. Ela constatou em pesquisa que muitos médicos estão desenvolvendo uma forma de estresse devido ao desequilíbrio entre o tempo gasto com atividades profissionais e pessoais. Dentre os que mais apresentam esse estresse, estão os especialistas que gastam mais tempo no computador atualizando registros. Muitas vezes precisam fazer essas atualizações em horários que deveriam ser gastos com a família, por exemplo.

Qual é o investimento?
Segundo artigo publicado na revista norte-americana The New Yorker, no caso da implementação do sistema da Epic na Mayo, grande parte do investimento se deu na verdade por conta do tempo que o corpo médico gastou aprendendo a utilizá-lo.

O custo do software foi de aproximadamente $100 milhões. O restante dos mais de $1,5 bilhões diz respeito a receita de pacientes que a rede de clínicas perdeu. Isso aconteceu porque a Mayo teve de parar as atividades de médicos e enfermeiros para que eles tivessem aulas sobre o sistema, mais o tempo gasto com a curva de aprendizado.

Fora isso, ainda precisou contratar pessoal para suporte técnico e outros profissionais necessários para a instalação.

Soluções
Todas as novidades e mudanças enfrentam certa resistência, ainda mais quando elas vem pra substituir um sistema que na prática funciona e está sendo utilizado por muito tempo. Com as Registros Eletrônicos de Saúde não é diferente.
Para lidar com os problemas que essas novidades trazem, cada médico cria uma solução diferente. Com isso, alguns deles procuram se adequar buscando alternativas.

Muitos médicos estão, por exemplo, contratando pessoas que ficam responsáveis por lidar com o software. Encontrar o prontuário daquele paciente, identificar as informações necessárias e digitar dados sobre a consulta ou laudos ficam sob responsabilidade de um novo tipo de assistente.

Outros tentam apenas adaptar para o mais próximo possível de que era antes dessas implementações; imprimindo exames, laudos e partes do prontuário, de acordo com o que lhes ajuda na rotina de atendimentos.

Existem também aqueles que, mesmo com todas as dificuldades, tentam adequar suas rotinas de trabalho aos novos moldes.

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